Chat Planeta terra é a nossa Casa

7 de maio de 2007

Transporte e Ecologia

Crescimento: Transportes

Dentro da idéia de um Pacote Ecológico de Crescimento (PEC), que permitisse atingir os objetivos do PAC, mas sem os seus impactos ambientais negativos daquele, analisarei aqui a questão da infra-estrutura logística, particularmente o setor de transportes.
O governo pretende investir, pelo PAC, cerca de R$ 58,3 bilhões em estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Destes, a maior parte, R$ 33,4 bilhões, será gasta com rodovias, enquanto que o montante reservado para as ferrovias é de apenas R$ 7,9 bilhões.
Dentre as ações mais controversas do ponto de vista ambiental está o asfaltamento das rodovias BR-163 (Cuiabá-Santarém) e BR-319 (Manaus – Porto Velho), além de mais algumas na região amazônica (BR-364 no Acre, BR-230, a transamazônica, no trecho paraense, e BR-156 no Amapá). Pois bem, há duas principais críticas a estas obras. Primeiro, no caso da BR-163, o objetivo principal deve ser o de escoamento da crescente produção de soja do Mato Grosso (parte de uma das fronteiras agrícolas mais ativas do país, a do arco sul da Amazônia), e possivelmente da também crescente pecuária na região. Estas, juntamente com a extração de madeira, são os principais agentes causadores de desmatamento na região. Com sua melhora, ela certamente induzirá à aceleração da expansão agropecuária no Mato Grosso.
Portanto, será um incentivo a mais para o desflorestamento por lá, bem como em outras áreas de influência da rodovia, como o que já vem ocorrendo na região de Santarém, próxima à calha do rio Amazonas, uma região até então livre da degradação nessa escala. Mas a cegueira neste ponto é tamanha que um dos objetivos do PAC é justamente "indução ao desenvolvimento em áreas de expansão de fronteira agrícola e mineral".
Sem comentários.
Segundo, já é mais do que sabido que estradas são indutoras de desmatamento por si sós. Ao fornecerem acesso fácil à floresta, começam a ser construídas estradas transversais à principal, a maior parte das vezes de forma clandestina, e, depois, transversais a estas e a figura que se vê do alto assemelha-se a uma "espinha de peixe", como é chamada esta forma de devastação à beira das estradas amazônicas.
É extremamente ingênuo (para dizer o mínimo) acreditar que os projetos de regularização fundiária e de áreas de manejo e concessão ao longo da rodovia conseguirão brecar a destruição (nem os parques e reservas indígenas são respeitados).
A ausência do Estado na imensa região, a promiscuidade de devastadores com as esferas municipais de poder (e por vezes estaduais), a péssima estrutura de fiscalização e o tradicional desrespeito à legislação em toda a região (e mesmo às formas básicas de ordenação social) são razões mais do que suficientes para este ceticismo.
No caso do asfaltamento da BR-163, que terá as piores conseqüências ambientais, há uma alternativa bem mais interessante: a ferrovia. Neste caso, poderia ser construída uma ferrovia que ligasse o centro e o norte do estado de Mato Grosso à ferrovia Norte-Sul, cujo andamento já está contemplado no PAC.
Desta, os produtos poderiam seguir por vários caminhos. Uma opção seria para o norte, para o porto de São Luís, uma vez que a ferrovia Norte-Sul será interligada com a E.F. Carajás, que une Marabá, no Pará, à cidade maranhense. Ainda para o Norte, os produtos poderiam seguir via fluvial até Belém, já que a integração da Norte-Sul com a Hidrovia do Tocantins também já está prevista no PAC. Pela mesma ferrovia, os produtos poderiam seguir para o sul, até Anápolis, em Goiás, e de lá, através de uma malha ferroviária já bastante razoável, atingir quaisquer dos portos da região Sudeste.
Por fim, já que o PAC prevê ainda uma ampliação de ferrovias para o interior do Nordeste, chegando até o centro-sul do Piauí, o escoamento poderia ser feito ainda pelo leste, por quaisquer dos principais portos da região Nordeste, com um ramal que interligasse a ferrovia Norte-Sul com as ferrovias nordestinas.
A opção pelos trens traria inúmeras vantagens. A primeira, econômica, reduzindo os custos de transporte. Há muito tempo que me chamou a atenção o fato de que os trens conseguem carregar muito mais carga por unidade de combustível (para transpor a mesma distância) do que os caminhões, sendo as hidrovias mais eficientes ainda. Desde esta época que eu não entendo por que então não se incentivavam mais os trens. Posteriormente, causou-me perplexidade o fato de que, nos últimos 40 ou 50 anos, na verdade, se deixou perder boa parte da malha ferroviária que tínhamos no Brasil (algo quase criminoso em um país pobre como o nosso), se parou de investir no setor ferroviário e o desenvolvimento dos transportes foi focado nas rodovias.
A segunda vantagem seria ambiental, pois evitaria a indução ao desmatamento ilegal e ao agronegócio destruidor (ressalte-se que a agricultura não tem que ser necessariamente nefasta, mas no Brasil ela acaba sendo, pela forma como é praticada e estimulada, mas este é assunto para o próximo artigo).
Um terceiro aspecto positivo, embora marginal, é que ambas as linhas poderiam ser utilizadas para transporte de passageiros e para promoção do turismo ambiental, dado o maior conforto que podem oferecer, o carisma de que os trens desfrutam no mundo todo e a melhor qualidade da paisagem quando vista de dentro deles, se comparada aos ônibus. E dentro da idéia de crescimento com menor agressão ao meio ambiente, seria extremamente interessante que se investisse mais em ferrovias em todo o país (exceto na Amazônia, onde também podem induzir a devastação), recuperando linhas desativadas e construindo novas, para, aos poucos, mudar nossa matriz logística de transporte de cargas de caminhões para trens. O ganho ambiental neste caso é de caráter mais global: menor consumo de combustível fóssil para obter-se o mesmo resultado.
E vou mais além. Poderia incentivar-se ainda o retorno do transporte ferroviário de passageiros (as empresas de ônibus que não me ouçam), por várias razões: economia global de combustível, potencial turístico, praticidade. E por aqui também o trem desfruta do carinho da população. Basta conversar sobre o assunto com alguém com mais de 45 anos para perceber a saudade dos tempos do trem. Ou ver o sucesso que as linhas turísticas desfrutam no Brasil. Ou ainda ver a luta aguerrida de inúmeras pessoas e entidades pela preservação da memória ferroviária (uma busca rápida na internet revelará diversos sítios extremamente interessantes). Ainda considerando-se o transporte de cargas, poderia haver investimentos no transporte fluvial, mas preferencialmente em bacias hidrográficas já bastante impactadas (e são várias), para que não se adicionem mais algumas à extensa lista. Mesmo aquelas mais preservadas, como na Amazônia e em partes do Pantanal, poderiam ser utilizadas, desde que seus limites fossem respeitados, o que significa a utilização de barcos de tamanho adequado e a não realização de obras que pudessem interferir fortemente nos ecossistemas locais (como ocorrerá com o Pantanal, que poderá ser imensamente afetado se se levar a cabo a idéia insana da hidrovia Paraná-Paraguai).
Rogério Grassetto Teixeira da Cunha, biólogo, é doutor em Comportamento Animal pela Universidade de Saint Andrews.

Salvar planeta custa US$ 862 bilhões, ou 2% do PIB mundial

Domingo, 6 de Maio de 2007
Salvar o planeta dos efeitos da mudança climática perigosa já tem um preço: cerca de 2% do PIB mundial (aproximadamente US$ 862 bilhões).
O número é do IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, que apresentou em Bancoc, Tailândia, a terceira e última parte de seu Quarto Relatório de Avaliação. O texto, cujo sumário executivo é dirigido aos formuladores de políticas públicas, trata da mitigação do efeito estufa.Embora não recomende aos governos que caminho tomar, o IPCC apresenta três futuros possíveis para a humanidade, na forma de três cenários de redução de emissões de gases de efeito estufa, em especial o dióxido de carbono (CO2).
No mais otimista, a concentração de CO2 na atmosfera é limitada a 450 ppm (partes por milhão) - o dobro do que havia no ar antes da Revolução Industrial. No mais pessimista, ela fica em 650 ppm."Se você mirar em uma estabilização de 450 ppm, você consegue evitar que a temperatura suba 2 ºC, o que causaria uma mudança climática perigosa. Mas vai ser um pouco mais caro: cerca de 2% do PIB mundial", disse à Folha Mohan Munasinghe, vice-presidente do IPCC.
"Para 550 ppm é menos de 1%, e para 650 ppm é algo desprezível [cerca de 0,2% do PIB]", disse o pesquisador. Este último cenário colocaria o planeta no rumo de um aumento de 4 ºC na temperatura em 2100, com os efeitos catastróficos decorrentes disso - secas, cheias, furacões e fome."Há tecnologias existentes e conhecidas para estabilizar em 450 ppm a 550 ppm, mas elas implicam em um custo significativo", disse Munasinghe.
"O que falta é vontade política. "Entre essas tecnologias, uma interessa especialmente ao Brasil: os biocombustíveis.Aqui, o IPCC traz uma boa notícia para o governo Lula e sua diplomacia. Somados, todos os biocombustíveis - em especial o etanol de cana - poderão ocupar de 3% a 10% da matriz do setor de transportes em 2030. Isso significa um potencial de reduzir até 1,5 bilhão de toneladas anuais de gás carbônico, e isso a menos de US$ 25 por tonelada cortada."Eles foram destacados no sumário executivo como uma das tecnologias de mitigação já disponíveis no mercado com os maiores potenciais de mitigação no setor de transporte", disse Suzana Kahn Ribeiro, professora da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora do capítulo de transportes do relatório.
Não só no setor de transportes: o IPCC também os considera uma boa alternativa para geração de energia e até mesmo no setor de florestas - com o álcool de celulose, um combustível de segunda geração produzido a partir de restos de madeira e serragem (ainda em escala piloto, fora do mercado).
Menção honrosaEsta é a segunda menção favorável do IPCC a estratégias de mitigação do clima propostas pelo Brasil. A outra foi o reconhecimento do potencial do setor florestal (e da redução do desmatamento, uma bandeira levantada pelo país) como ferramenta de mitigação que pode ser usada já a baixo custo.
O álcool de cana chega a merecer um destaque no texto do capítulo de transportes (fora do sumário executivo), que aponta suas vantagens comparativas em relação a outros tipos de etanol, como o de milho. A principal dessas vantagens é o chamado balanço energético, ou seja, a proporção de matéria-prima que vira combustível, mais favorável na cana."Tentei puxar a brasa para a nossa sardinha", confessa a pesquisadora da Coppe.
Síndrome de FidelO IPCC teve, no entanto, cuidado de não trombetear as maravilhas dos biocombustíveis no texto destinado aos tomadores de decisão, por duas razões.Primeiro, existe uma controvérsia em torno da chamada "síndrome de Fidel Castro", ou seja, a limitação da agricultura energética devido a uma competição com a agricultura para a produção de alimentos.
"Isso já é um fato com o milho e alimentos derivados de milho nos EUA e México. Assim, por não haver consenso a respeito, pouco pode ser afirmado, principalmente no sumário executivo", diz Ribeiro.A outra é a absoluta falta de dados sobre o potencial de expansão dos biocombustíveis. Ribeiro diz que no Brasil, que é um dos maiores produtores de cana, há apenas "um ou dois" estudos demonstrando a potencialidade de expansão da produção de álcool.
Setores inteiros, como o de transporte público e veículos pesados, acabaram ficando de fora da análise também por falta de referências científicas. Pode ser até que o real potencial do álcool e do biodiesel esteja subestimado."Não temos como fundamentar cientificamente", afirma a pesquisadora brasileira. (Fonte: Cláudio Ângelo / Folha de S.Paulo

6 de maio de 2007

EUA querem que Brasil assine tratado de preservação flores

30/04/2007 - 14h35
BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Nova York
A subsecretaria de Estado americana, Paula Dobriansky, pediu que o Brasil assine com os Estados Unidos tratado de conservação de florestas tropicais.
O projeto foi criado pelo governo americano em 1998 e oferece a países em desenvolvimento o perdão de dívidas com os Estados Unidos e a geração de fundos para preservação ambiental.O programa é implantado por meio de acordos bilaterais. Entre as nações latino-americanas que já assinaram o tratado estão Peru, Colômbia, Paraguai e Panamá.
O pedido da subsecretária foi feito durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentável realizado nesta segunda-feira em Nova York. O evento conta com a presença dos ex-presidentes americanos Bill Clinton e George W. Bush, pai do atual líder americano.O Fórum foi realizado pela ONG Associação das Nações Unidas-Brasil e contou com a presença de inúmeros políticos brasileiros, entre eles o senador e ex-presidente José Sarney, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.BiocombustíveisDe acordo com Departamento de Estado, o tratado de conservação de florestas tropicais é capaz de gerar até US$ 60 milhões (cerca de R$ 120 milhões) em iniciativas voltadas para a preservação ambiental.
"Esperamos que o Brasil se junte a nós e assine o tratado", afirmou a subsecretária.
"Com isso é possível aliviar a dívida com os Estados Unidos e investir em recursos para preservação de florestas e espécies de animais.
"A subsecretária disse ainda ser preciso tomar uma série de medidas para ampliar o uso mundial de biocombustíveis.
Segundo Dobriansky, "os elementos-chave são redução dos custos de produção dos biocombustíveis, as demandas pelo uso da terra e as pressões no preço das rações para animais.
"Os Estados Unidos vêm enfrentando uma elevação do preço do milho e nos valores de terras cultiváveis devido à produção de etanol.
A versão americana do biocombustível é produzida a partir do milho. Com a crescente demanda pelo cereal, aumentou também a quantidade de terras necessárias para cultivar milho.

IPCC mostra caminho para contornar a crise climática

05/05/2007 - 09h38
CLAUDIO ANGELO
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Bancoc
O mundo pode combater a mudança climática com as tecnologias existentes hoje, mas evitar seus piores efeitos exigirá uma ação imediata e custará até 2030 pouco menos de 3% do PIB mundial.
A conclusão é do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), que lançou ontem em Bancoc, Tailândia, o sumário executivo da terceira parte de seu Quarto Relatório de Avaliação, o AR4.
O documento de 35 páginas, intitulado "Mitigação da Mudança Climática", é endereçado aos formuladores de políticas públicas ("policymakers"). Ele lista as principais soluções para o problema de como reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, em especial o gás carbônico (CO2).Com ele, o IPCC encerra a mais completa radiografia já feita do maior problema ambiental da história.
"Agora os líderes mundiais já têm a ciência do aquecimento global [a primeira parte do AR4], conhecem seus impactos [a segunda parte] e sabem como atacar a questão", disse à Folha Gavin Edwards, coordenador de Clima e Energia da organização ambientalista Greenpeace. "Só falta agir."E agir rápido. De 1970 até 2004, mostra o relatório, as emissões dos gases que aprisionam o calor da Terra na atmosfera subiram 70%. Se nada for feito, em 2030 elas tendem a crescer de 25% a 90% em relação a 2000.
"O mundo definitivamente está no caminho do aquecimento", disse ontem o presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, no lançamento do relatório. "Se continuarmos a fazer o que estamos fazendo, teremos problemas sérios", completou o co-coodenador do Grupo de Trabalho 3, Ogunlade Davidson, que liderou a produção do sumário.
Por "problemas sérios" entenda-se aquilo que os cientistas chamam de "interferência perigosa" do homem no clima da Terra. Ela é expressa por um aquecimento em 2100 superior a 2 ºC acima da média pré-industrial, o que teria efeitos catastróficos sobre ecossistemas e ainda nas sociedades.
Colocar o sistema climático dentro de um limite seguro de temperatura implicaria estabilizar as concentrações de CO2 na atmosfera em cerca de 450 partes por milhão --o dobro dos níveis pré-industriais-- , afirma o IPCC. Para isso, os governos do mundo inteiro precisariam reduzir as emissões em 50% a 85% em 2050.
Para que isso aconteça, será necessário que as emissões globais atinjam seu pico e comecem a declinar logo: no ano de 2015. "Como o carbono que emitimos perdura na atmosfera, é preciso fechar a torneira antes que a banheira transborde", disse o outro coordenador do relatório, Bert Metz.Se o pico for adiado, o custo de trazer a curva para baixo aumentará muito. É preciso aproveitar, portanto, enquanto a humanidade aparentemente pode pagar a mitigação. "Isso vai ser um esforço hercúleo", pondera Branca Bastos Americano, do Ministério da Ciência e Tecnologia, membro da delegação brasileira na reunião do IPCC em Bancoc.
Kyoto aceleradoQuando expirar, em 2012, Kyoto terá conseguido reduzir, no máximo, 5,2% das emissões dos países industrializados (menos Austrália e EUA) em relação a 1990. Um eventual substituto do protocolo teria de cumprir muito mais em apenas sete anos, contando com uma barreira adicional: mais de 60% do crescimento das emissões até 2030 virá de países pobres.
A boa notícia é que as soluções estão ao alcance da mão. As diversas opções incluem carros e eletrodomésticos econômicos, o uso de biocombustíveis, a energia nuclear e a redução do desmatamento. O pacote todo pode cortar até 63% das emissões a um custo razoável (até US$ 100 por tonelada de CO2 abatida). A custo zero, é possível cortar 7 bilhões de toneladas (quase o que a humanidade emite por ano hoje)
No Brasil, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que quer terminar o plano nacional de enfrentamento da crise do clima em 90 dias. "Já há várias ações em curso. Não vamos começar do zero."Já o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) destacou a menção que o IPCC fez à energia nuclear como potencial "limpo". "A resistência a ela vem de alguns ambientalistas pouco esclarecidos", disse.

Calor faz 18% da Amazônia virar savana Calor faz 18% da Amazônia virar savana

28/04/2007 - 11h01
EDUARDO GERAQU
Eda Folha de S.Paulo
Pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já sabem o tamanho do estrago que o aquecimento global vai fazer na Amazônia neste século. Pela primeira vez, eles cruzaram dados de 15 modelos de computador usados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) com outros de vegetação e clima feitos no Brasil.
O veredicto: até 18% da área que hoje é mata deve virar uma vegetação rala, semelhante ao cerrado. Com o clima mais seco, a savana tende a crescer."Pelo estudo, a floresta amazônica vai ganhar 30,4% de savana no período entre 2090 e 2099", disse à Folha Luís Salazar, pesquisador do Inpe. Ele assina o estudo, a ser publicado na revista "Geophysical Research Letters", ao lado de Carlos Nobre e Marcos Oyama.
Salazar explica que a aparente discrepância entre os dois números se deve ao fato de que as duas formações não têm o mesmo tamanho; a área de mata é muito maior.
No período que vai de 2020 a 2029, a savana deve crescer 5,2% no norte do Brasil. Em meados do século, de 2050 a 2059, esse crescimento será de 15,6%. O processo de "savanização" tende a ser maior na porção leste da Amazônia.
IPCCA projeção do Inpe foi feita com base em dois cenários do IPCC, que projetam o futuro do planeta com base em dados estimados de população, consumo e uso de energia. Um deles, o chamado A2 --o mais pessimista de todos-- prevê um aumento de temperatura média para o planeta entre 2ºC e 6ºC.
O outro cenário, o B1, é bem mais otimista. Nele, com a temperatura subindo entre 1ºC e 4ºC, a savana deverá ocupar uma área menor de floresta, de 13,9%, no período que vai de 2090 a 2099. Para os outros dois intervalos de tempo analisados, respectivamente, o aumento será de 4,3% e de 8,7%.
"Além da temperatura em si, a umidade do solo e os períodos secos também são importantes nesse processo de perda da floresta", explica Salazar, que veio da Colômbia para o Inpe.DesmatamentoOs estudos apresentados agora não levam em conta a ação direta do homem sobre a floresta, que poderia ser medida pelo desmatamento.
"Indiretamente, o efeito antrópico está presente nas emissões de carbono, que geram o aumento de temperatura", lembra Salazar.A pesquisa mostra que as áreas que serão ocupadas pela savanas são as mesmas que hoje estão cobertas pela floresta tropical. No período de 2090 a 2099, no caso do cenário em que o aquecimento é maior, 18% da floresta some.
Entre 2020 e 2029, a queda será de 3,1%, e, entre 2050 e 2059, a redução florestal será de 9,3%, diz o estudo.PioneirismoEste não é o primeiro estudo a mostrar a tendência de savanização da Amazônia. O efeito havia sido previsto em modelos pela primeira vez em 2004, por Oyama e Nobre. Foi sugerido de forma independente por Steven Wofsy e Lucy Hutyra, da Universidade Harvard, e, antes disso, prenunciado por Daniel Nepstad e Paulo Moutinho num estudo que simulava El Niños numa pequena área de mata no Pará.
Porém, enquanto as pesquisas anteriores consideravam a tendência da vegetação a mudar devido a eventos climáticos extremos ou ao desmatamento, esta é a primeira a incorporar os dados da mudança do clima ao longo de um determinado intervalo de tempo.
O mapa apresentado no estudo do Inpe faz saltar aos olhos outra novidade, desta vez positiva para a floresta atlântica."Nosso trabalho mostra uma tendência de crescimento da mata atlântica mais ao sul do Brasil. O clima tende a ficar mais propício para a manutenção dela", explica Salazar. "Mas nosso modelo não considera, em absoluto, nenhum efeito antrópico direto", diz.
Mesmo o clima sendo favorável para que a mata atlântica cresça até mesmo dentro do território uruguaio, a previsão que saiu dos modelos do Inpe poderá não se confirmar por causa do outro lado da balança. O desmatamento, processo que reduziu o bioma para apenas 7% da sua formação original, deverá impedir que as condições ótimas do clima prevaleçam neste século.
Outro estudo apresentado em fevereiro, feito na Unicamp, mostrou que o grau de desequilíbrio na floresta atlântica é tão grande que o efeito estufa poderá reduzi-la ainda mais.Os cálculos mostram que até 60% de todo o ecossistema pode desaparecer. A pesquisa também levou em consideração dados do IPCC.

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