Chat Planeta terra é a nossa Casa

23 de maio de 2007

O berço do grande “vilão” dos mares



O berço do grande “vilão” dos mares


Pesquisador descobre, no litoral de São Paulo, um local onde um dos maiores predadores dos mares, o tubarão, passa os primeiros estágios de vida. A descoberta pode acarretar, entre outras coisas, a sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção e o estudo dos hábitos desses animais com o objetivo de evitar ataques a banhistas.

Em junho de 1996, o pesquisador e professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Otto Fazzano Gadig, dava início ao Projeto Cação. Ele pretendia iniciar uma série de pesquisas em Itanhaém (litoral de São Paulo) para conhecer e estudar os hábitos de novas espécies de tubarões, descobrir do que elas se alimentavam, como se reproduziam e, até mesmo, quantos desses animais havia na região.

Passados alguns anos, Gadig, juntamente com sua equipe, e contando com o auxílio de alguns pescadores do município, observou que havia inúmeras espécies de tubarões recém-nascidos naquela área. A conclusão do trabalho do pesquisador foi a descoberta de um “berçário” desses animais, ou seja, local onde as fêmeas costumam dar à luz seus filhotes e estes passam os primeiros estágios da vida.

Gadig é considerado um dos maiores especialistas em tubarões no país e, graças a suas pesquisas na área, é chamado freqüentemente para identificar espécies que atacam banhistas em diferentes locais do país. Em entrevista exclusiva ao portal, ele falou sobre a importância dessa descoberta em Itanhaém e de que forma isso pode ajudar na preservação da espécie. O pesquisador explica que, conhecendo-se o lugar em que esses animais passam as primeiras fases da vida, será possível evitar futuros ataques, como os que ocorrem constantemente nas praias de Recife (litoral nordestino).

Quando e por que começou o seu interesse em pesquisar tubarões?
O meu interesse já é relativamente antigo. Na verdade, o trabalho que faço agora, que culminou com a descoberta do “berçário”, é mais um desdobramento de um trabalho de uns 25 anos. O meu interesse se deve ao fato de os tubarões serem animais extremamente interessantes, apesar de serem predadores mal vistos pelo público em geral. Eu acreditava que era necessário conhecê-los melhor para ver que a verdade é outra; o contrário do que o público pensa.

Aproximadamente, quantas espécies de tubarão existem e quais são as mais perigosas para o homem?
São conhecidas pouco mais de 450 espécies diferentes de tubarão. O público em geral pode achar que esse número é muito alto, pois geralmente se imagina que existem poucas espécies, as quais seriam conhecidas justamente por morder e atacar as pessoas, como o tubarão-branco, o tubarão cabeça-chata e o tubarão-tigre. Esses três são muito conhecidos e considerados os maiores envolvidos nos ataques a seres humanos no mundo. O tubarão cabeça-chata e o tubarão-tigre são espécies que atacam nas regiões tropicais, enquanto o tubarão-branco prefere águas frias. Estes são, sem dúvida, os que representam maior perigo para os surfistas, banhistas, mergulhadores, etc. Existem ainda mais umas seis ou sete espécies diferentes que, eventualmente, envolvem-se em acidentes, que são de menor gravidade.

Qual o peso e a estatura máxima que um tubarão pode atingir?
Os três que eu citei anteriormente são muito grandes. O tubarão cabeça-chata cresce até três metros de comprimento e pesa quase 300 quilos, ou seja, ele é um animal muito robusto. O tubarão-tigre pode medir até seis metros e pesar uma tonelada (embora não seja comum encontrar um desse tamanho), e o tubarão-branco é um pouco maior: pode chegar a sete metros e pesar até duas toneladas, pois é mais gordo, mais robusto. São três espécies de grande tamanho, e isso é um fator que as torna também potencialmente perigosas.

A cidade de Recife vem sendo, ao longo dos últimos anos, alvo de grande preocupação no que diz respeito a ataques de tubarões na costa brasileira. A que você atribui essa onda de ataques e o que acha que deve ser feito para que não ocorram mais tragédias?
O problema de ataques de tubarões na região metropolitana de Recife está relacionado com o fato de que, próximo a essa área, foi construído o porto de Suape. É uma obra que custou caro e que acabou determinando alterações importantes no ecossistema regional. Por exemplo: eles destruíram e modificaram o ambiente de tal forma que algumas espécies de tubarão potencialmente perigosas, como é o caso do tubarão-tigre ou do tubarão cabeça-chata, ficaram sem lugar para ter seus filhotes e também sem alimento. Então, eles começaram a atacar pessoas no litoral do Recife, já que é uma área intensamente povoada. Esse é um problema grave e que deve ser resolvido de médio a longo prazo, sobretudo com implementação de trabalhos de educação, para que as pessoas adotem comportamentos de menor risco. Lá em Recife, já se sabe quais são as espécies de tubarões que atacam, em que situações e horários, bem como quais são os locais mais apropriados para o banho e onde a incidência de ataques é maior. Agora, é importante que isso seja passado ao público de uma forma eficiente para que efetivamente as pessoas comecem a entender que lá existe um problema localizado e que é possível diminuir o risco dos ataques. Infelizmente, reduzir a zero é impossível, pois em nenhum lugar do mundo isso foi conseguido.

Como você avalia a importância da sua recente descoberta do “berçário” de tubarões em Itanhaém, no litoral paulista?
A descoberta do berçário de tubarões no litoral de São Paulo é importante sob vários aspectos. Primeiramente porque a divulgação desse fato vai fazer com que outros pesquisadores atentem para a possibilidade de que em outras regiões existam “berçários”, o que de fato é muito provável. Na verdade, esse berçário é nada mais, nada menos, que a comprovação de uma idéia que todo mundo tem, ou seja, a de que existem berçários de tubarões ao longo de toda a costa brasileira e em vários lugares do mundo. No entanto, não se tem pesquisas feitas em longo prazo que comprovem isso; no Brasil, essa foi a primeira região a ser descoberta, e, no mundo, só se conhecem mais quatro.

O segundo aspecto é que encontrar uma região que possa ser utilizada pelos tubarões nessa fase importante da vida deles (nascimento e crescimento) é uma descoberta que ajuda muito na conservação do meio ambiente e dos próprios animais, pois podemos criar um mecanismo para preservar essas áreas. Dessa forma, preservamos automaticamente além dos tubarões, todos os outros animais que vivem nesse ecossistema. Portanto, a descoberta de um “berçário” é uma informação prioritária e estratégica para se criarem medidas de conservação do ecossistema marinho costeiro.

Como se deu essa descoberta?
A descoberta desse “berçário” foi conseqüência de um trabalho que começou em julho de 1996 (na semana passada completou oito anos). Inicialmente o projeto tinha como objetivo apenas conhecer quais espécies de tubarões viviam nessa área, o que elas comiam, como elas se reproduziam e o quanto havia de tubarões por lá. Assim foi durante os anos iniciais, em que nós fazíamos estudos com a ajuda dos pescadores artesanais da praia de Itanhaém (litoral de São Paulo). Com o passar do tempo, descobrimos que lá havia muitos tubarões recém-nascidos. Então imaginamos que poderia haver um “berçário” desses animais, o que foi confirmado nos últimos anos. Descobrimos ainda que pelo menos cinco das espécies de tubarões que encontramos utilizam essa área para ter seus filhotes.

Existem outros “berçários” de tubarões no Brasil? A destruição do hábitat desses animais pode gerar problemas populacionais para determinadas espécies por causa das mudanças na cadeia alimentar?
Sem dúvida, existem outros “berçários” no Brasil. Porém, é necessário que sejam feitas pesquisas a longo prazo para descobri-los, o que nem sempre acontece, por causa de questões logísticas e financeiras. Mas tenho certeza de que, se forem feitas outras pesquisas como essa, em outros pontos do litoral brasileiro, grande parte delas vai constatar que outros locais estudados também são “berçários”.

Quanto à questão da destruição do hábitat, esse é um problema muito sério não só para a população de tubarões, mas também para a de vários animais marinhos, pois afeta consideravelmente a vida deles. O litoral de Recife é um bom exemplo de lugar onde provavelmente a destruição de algum sistema marinho gerou vários problemas, como o ataque de tubarões. Mas o problema maior é a diminuição da quantidade de tubarões: a pescaria de grande porte e a destruição do ambiente natural têm sido os principais fatores para a diminuição da população de várias espécies desse animal, que está em risco de extinção.

Existe alguma pesquisa mostrando que esses tubarões podem voltar sempre ao mesmo “berçário” para ter seus filhotes? Esse local geralmente fica afastado da praia?
Os nossos “berçários” e alguns outros espalhados pelo mundo se encontram em regiões perto da costa. Para que se possa ter certeza de qual é o grau de fidelidade, ou seja, se os tubarões voltam sempre para a mesma área para ter os filhotes (embora isso seja aceitável e aconteça por lógica), precisaria haver outro método de pesquisa, o que, por questão de financiamento, a gente ainda não tem, que consistiria em marcar para observação as fêmeas e os adultos machos que se aproximam da costa, para ver se eles aparecem novamente no ano seguinte. Esse seria um procedimento relativamente simples, mas envolve uma logística complicada, que no Brasil nem sempre é possível fazer. Existe ainda outro método mais complicado em termos de financiamento, que é colocar no tubarão um radiotransmissor e depois acompanhá-lo através de um radiorreceptor instalado no meio ambiente. Quando o animal chegasse perto desse radiorreceptor, a informação seria ser gerada por satélite. Embora seja uma tecnologia muito avançada, talvez nós consigamos utilizá-la no Brasil a curto prazo. Na verdade, o equipamento já foi usado por aqui em um trabalho realizado em Fernando de Noronha, que a propósito sugere a existência de um “berçário” naquela região. O volume de informações obtidas não foi adequado, pelo menos se comparado com esse trabalho recente que nós fizemos aqui em São Paulo.

Os tubarões atacam os surfistas porque os confundem com focas ou leões-marinhos? E os banhistas em geral também podem ser atacados?
Com relação à primeira pergunta, isso nem sempre é verdade. Essa idéia surgiu nos EUA e foi transmitida para várias outras nações, não só para o Brasil. Os norte-americanos levantaram essa hipótese quando estavam estudando um modelo que envolve o tubarão-branco, as focas e os surfistas. Aqui no Brasil praticamente não há tubarões-brancos e focas, portanto, nem sempre é possível estabelecer o mesmo parâmetro. É difícil comprovar essa história de que os tubarões atacam porque confundem os surfistas com focas ou leões-marinhos.

A respeito dos ataques aos banhistas, de vinte anos para cá, os surfistas passaram de fato a serem as principais vítimas de tubarões, pois o esporte praticado por eles se difundiu. Contudo, mesmo antes de o surfe se espalhar pelo mundo todo, os banhistas eram as presas preferenciais, e continuam sendo, até porque eles e os surfistas ocupam praticamente a mesma região costeira. Estes ficam um pouco mais no fundo, e isso aumenta a chance de sofrer ataques. No entanto, os tubarões podem chegar à área onde os banhistas ficam, tanto que foram registrados vários ataques nessas regiões, em Recife e pelo resto do mundo.

Existem algumas espécies de tubarões que estão ameaçadas de extinção em decorrência do interesse de grandes indústrias em comercializar as nadadeiras desses animais. Na sua opinião, quais medidas devem ser tomadas para evitar que isso aconteça?
A extinção de várias espécies de tubarão por conta da pesca industrial para se retirarem as nadadeiras é um problema muito sério, e a solução para ele não é simples, pois envolve política internacional e adoção de medidas rigorosas no sentido de fiscalizar as embarcações de grande porte que fazem isso. O problema é que aplicar esse tipo de medida é algo muito complicado, uma vez que o mercado internacional de nadadeiras de tubarões é muito forte e tem um apelo econômico bastante grande. Então, politicamente falando, é uma ação complicada. Eu acho que se deveria educar o povo, fazendo com que ele entendesse que os tubarões são animais importantes e devem ser preservados, pois são fundamentais para o ecossistema e, a partir daí, começar a criar uma idéia nova nas pessoas, para que elas pressionem as autoridades competentes a implementar medidas que resolvam esse problema.
http://www.aprendebrasil.com.br/pesquisa/respostadisci.asp?id=612&pg=1&img=21

Por Guilherme Prendin

Nenhum comentário:

Defendas as Baleias

http://www.whales.greenpeace.org/br Clique aqui e ajude-nos a defender as baleias

WWF-Brasil

http://www.wwf.org.br Clique aqui e descubra como a WWF-Brasil cuida do ambiente onde o bicho vive. O Bicho-homem